Fla intolerância


Por Siro Darlan 


Dia 31 de março lembramos o dia em que fomos todos assaltados por um golpe militar, empresarial e midiático, onde as empresas Globo se destacavam em seus ataques à democracia. Foram anos de chumbo com muita dor e sofrimento para inúmeras famílias brasileiras com mortes e desaparecimentos, exílios e separações. Degredos e expulsões dos indesejados da burguesia. É preciso lembrar para não esquecer. Como brasileiros devemos olhar para nossa pátria como patrimônio conquistado com o nascimento nesse solo, que devemos compartilhar, independentemente da cor de nossa pele, do credo, do gênero, da religião ou opção política.

Ninguém tem o direito de se arvorar dono de nossos símbolos, hino, bandeira, cores, costumes, camisa da seleção brasileira, ou do Flamengo. Esses compõem o nosso patrimônio comum e não pode ser abocanhado por nenhum egoísta ou dono da verdade.

Participo de quase dez grupos de WhatsApp de apaixonados pelo Flamengo. Nessa pandemia é uma diversão ver como os irmãos dessa Nação se comunicam 24 horas por dia sobre nosso amor comum: O Flamengo. Estava algum tempo no grupo denominado UNIÃO Rubro Negra (URN), convidado por seu administrador Cacau Cotta, de quem sou amigo há muitos anos. Na minha cabeça esse grupo como os demais é para falar sobre nosso clube de coração, sejam elogio ou críticas, porque assim é na democracia, mesmo estando tão ameaçada.

O grupo foi criado para dar apoio à tão criticada administração Patrícia Amorim. E continuou como oposição moderada a Bandeira de Mello, até aparecer uma boquinha, e logo virou chapa branca. Convidado para dar apoio ao atual presidente Landim, compareci a um ato público e condicionei meu apoio à uma postura progressista mas que não esquecesse seu passado e suas origens e priorizasse ações sociais no clube. Fechado o acordo, aguardamos e a gestão não cumpriu esse compromisso.

Reconheço que a gestão é vitoriosa, mas não se pode retirar os méritos da administração do presidente Eduardo Bandeira de Mello que soube dar sustentação para que o prédio fosse erguido. Não sabia que o grupo onde eu estava era um curral eleitoral do atual presidente, e ousei democraticamente exercer meu direito de escolha afirmando minha preferência eleitoral e suas razões.

Imediatamente, a mensagem foi tomada como uma agressão ao dono da Casa Grande e a boiada estourou com críticas e expulsão do grupo.

Ora não nasci para ser gado, nasci para ser boiadeiro e se não posso cantar nesse terreiro, pego minha viola e vou cantar em outro onde a liberdade de expressão seja respeitada. Carlos Drummond de Andrade não calou e poetou: “Este é tempo de divisas, tempo de gente cortada… É tempo de meio silêncio, de boca gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina.” Enquanto Chico Buarque de Holanda cantava: “Hoje você é quem manda, falou tá falado não tem discussão não…A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão.” Agradeci e saí.

O dia do exílio não podia ter sido melhor escolhido pelo administrador, que me chamava de “Presidente” numa alusão ao seu desejo de que eu fosse do grupo URN, quiçá, até mesmo do clube, uma impossibilidade jurídica. Página virada. Mas fica a indagação, se o grupo ironicamente chama-se UNIÃO, porque essa intolerância, que não se manifestou apenas no dia do ódio contra a democracia, mas manifesta-se historicamente na exclusão e exílio de grandes rubro negros como foi o caso do eminente Paulo Cesar Ferreira, ferrenho defensor da honestidade administrativa, do Presidente Kleber Leite, do iluminado Presidente Edmundo dos Santos Silva, que tantas alegrias já nos deu e dará, do Dr. Leonardo, o inesquecível Capitão Leo que deu seu sangue em defesa da Nação nas arquibancadas e com seus discursos veementes.

Se, por ironia, o nome do grupo é UNIÃO pra que dividir? Uma Nação tão grande e tão dotada de momentos mágicos não pode deixar de ser unida. Nas eleições é natural que haja candidatos das mais variadas vertentes, porém, como é dever numa democracia, dado o resultado das urnas, todos pelo Flamengo e nada do Flamengo. Sigamos unidos, e não divididos pela grandeza de nosso Bem Amado. Vitorioso mesmo foi o Presidente Dunshee de Abranches que nos levou ao título máximo e nos legou a geração Zico.

Hoje recebi o honroso convite para assumir o cargo de Secretário Geral do Movimento Tradição & Juventude do Flamengo, com muito carinho e muita honra aceitei essa missão, que me obriga a ser em todos os detalhes um democrata. Um Secretário Geral tem a função de ouvir todos e todas e seguir na direção da maioria, o que interessa é a direção tomada pelo conjunto de opiniões e não no interesse pessoal de quem quer que seja.

Tudo pelo Flamengo, nada do Flamengo.

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